Lara Plácido

 

impact é a forma como dizemos impacto em crioulo.

Foneticamente, remete-nos também para uma dimensão ambiental.

 

Neste caso, impact é também um sistema construtivo adaptado à realidade cabo-verdiana que propõe a substituição de uma parte dos inertes por resíduos sólidos urbanos triturados e que surge das preocupações de reduzir o impacte ambiental resultante da extração de inertes e de canalizar os lixos descartáveis de um território insular que não possui mecanismos sistematizados para o seu tratamento.

 

impact formaliza-se na ilha de São Vicente, ao ser selecionado para o Salão Created in Cabo Verde da Urdi’2020, momento no qual foi explorado o elemento inicial do impact: um bloco maciço de 20’ - e de encaixe - centrado na problemática da habitação em Cabo Verde e na preocupação de tornar a autoconstrução predominante numa prática de maior rigor.

Com a selecção do impact como projecto satélite da Porto Design Biennale, este assume um formato participativo na comunidade da Ribeira da Barca, nomeadamente, junto das mulheres da apanha da areia. Esta é a actividade feminina predominante neste lugar, onde são expressivas as taxas de natalidade e de monoparentalidade e onde a areia é vendida com cada vez maior dificuldade.

Prevê-se que o declínio da actividade de labuta da areia venha, de alguma forma, salvaguardar parte da orla costeira em Cabo Verde, um país onde 99% do seu território é composto por mar e onde cerca de 20% do seu PIB se faz representar pelo turismo, tornando-se assim fundamental a preservação do seu património natural. Por outro lado, vem inevitavelmente, denunciar a fragilidade eminente de numerosas famílias cujo orçamento familiar assenta exclusivamente na apanha de inertes.

Com o objectivo de reinventar novas actividades para as mulheres - cuidadoras por excelência das famílias locais - impact é também ele reinventado, com um novo elemento: uma lajeta de pavimento que se inspira na identidade local do padrão do panu di terra. 

​

​

Autoras: Inês Alves e Lara Plácido